sexta-feira, 4 de novembro de 2022

DEUS

título original: Deus
ano de lançamento: 2013
país: Brasil
elenco: Clarice Falcão e Rafael Infante
direção: Ian SBF
roteiro: Fábio Porchat

De repente, uma mulher chamada Judith aparece no meio de um grande espaço em branco, onde ela vê uma figura vestida com roupas típicas de povos florestais, que explica que ela morreu.
Diante do espanto da mulher, a figura explica que é Deus.
Ele lembra a ela que cada civilização acredita numa coisa diferente sobre o Divino. Alguma dessas civilizações tinha que estar certa em relação a essa crença. E a que está certa são os habitantes de uma tribo da Polinésia.
Deus explica à Judith que, como ela não seguiu à risca os dogmas que ele determinou pra tribo da Polinésia, ela está condenada a arder no infinito pelo resto da eternidade.
Ela tenta se defender e pergunta como ela poderia saber que SÓ AQUELE era o deus certo. E Deus responde que ela não ia saber, mas estava condenada assim mesmo.
Deus deixa claro que no Céu só existem polinésios.
A Judith questiona o fato do caminho apresentado por Deus como o ÚNICO caminho verdadeiro não ser conhecido por quase ninguém. Mas ele responde que tem certeza de que um dia a palavra dele vai chegar a todos. Até lá, quem ainda não tiver ouvido a palavra dele que se foda.

Deus é um dos curtas-metragens do grupo Porta dos Fundos. E qualquer semelhança que a gente veja entre o deus mostrado aqui e o deus apresentado pela maioria dos grupos pentecostais e neopentecostais do Brasil (principalmente entre os de classes sociais mais pobres) não parece ser mera coincidência.
Sim: são aqueles grupos que repetem compulsivamente que a tal da “salvação” só é possível através da igreja DELES e da interpretação que o pastor DELES faz da Bíblia, convictos de que o deus DELES só pode ser encontrado na igreja DELES.
Em outras palavras, você pode ser uma pessoa altruísta, honesta, justa, pacifista, responsável, solidária, trabalhadora, amorosa com todo mundo... Aos olhos dos grupos mencionados acima, nada disso tem valor nenhum. Se você não adorar o deus DELES na igreja DELES, você pode ter todas essas características positivas e mais todas as outras e você vai pro Inferno assim mesmo.
Esses mesmos grupos alegam que já têm uma passagem garantida pro Céu. Afinal, de acordo com eles, no Céu do deus DELES só existe quem é da igreja DELES.
Os mais tolerantes até concordam que quem não é da igreja DELES mas frequenta alguma igreja que segue o mesmo estilo que aquela ainda pode ir pro Céu. Mas todo o resto da Humanidade (incluindo católicos e protestantes históricos) já está condenada ao Inferno desde agora.
Se alguém morreu sem ter conhecido a palavra do deus DELES, problema desse alguém. A ética do deus DELES é exatamente essa: ele cria leis que não podem ser mudadas, permite que milhões de pessoas morram ao longo dos milênios sem nunca nem terem ouvido falar nessas leis e manda todas essas pessoas pro Inferno pelo resto da eternidade só porque nunca ouviram falar nessas leis.
É um deus que sente prazer em ver a desgraça alheia!
Então, o filme é uma sátira sobre isso. E eu achei fantástica!!!
Eu não sou cristão. Mas quero deixar claro que aqui não vai nenhuma crítica da minha parte contra o Protestantismo sério (que os pentecostais e neopentecostais dizem que é “frio”, porque não se comporta com o mesmo descontrole histérico que eles). Até porque eu nunca vi um luterano, um presbiteriano ou um anglicano, por exemplo, me abordando na rua pra me falar de um deus fútil, cruel e sádico. Menos ainda pra me dizer que eu tenho o dever e a obrigação de me converter à igreja A, à igreja B ou à igreja C e que só naquela igreja eu vou encontrar o deus verdadeiro.
Protestantes históricos, em sua maioria, conhecem o velho princípio de que respeito se conquista com respeito.
Certos homens histéricos que andam com ternos abotoados até o queixo e carregam 24 horas por dia uma bíblia na mão e certas mulheres histéricas que usam cabelos de 3 metros e saiões arrastando no chão e também carregam 24 horas por dia uma bíblia na mão fariam bem em aprender esse princípio. Mas não adianta tentar ensinar princípios básicos de civilização a quem fala frases do tipo “O PASTÔ DA MINHA INGREIJA É UMA BENÇA!!!”.
Mais informações sobre o filme? Lá vai:


Até a próxima!

2 comentários:

Anônimo disse...

Por incrível que pareça, é mais fácil conviver com um muçulmano do que com um pentecostal favelado.
O muçulmano respeita mais você do que o pentecostal favelado.

Leo Rib disse...

Aí vai entrar um problema que você vê em todas as religiões: existe uma espécie de casamento indissolúvel entre o fanatismo religioso e a pobreza.
Se você comparar uma pessoa de classe baixa de uma religião com uma pessoa de classe média ou de classe alta da mesma religião, você vê que o pobre segue quase sempre uma versão mais agressiva da religião e trata a religião como algo a ser imposto a todos, não importa quem quer e quem não quer. Já o pessoal de classe média e de classe alta têm a tendência de tratar a religião como uma escolha pessoal, que a pessoa segue se quiser seguir, como algo que não pode ser interpretado ao pé da letra...
Não foi à toa que o pentecostalismo cresceu com tanta força nas favelas, já que ele é a manifestação mais movida a emocionalismo agressivo do Protestantismo.