título original: Humongous
títulos brasileiros: A Ilha dos Cães / O Monstro da Ilha
ano de lançamento: 1982
país: Canadá
elenco principal: David Wysocki (creditado aqui como David Wallace), Garry Robbins, Janet Julian
direção: Paul Lynch
roteiro: William Gray
Se você ler qualquer crítica sobre Humongous, uma reclamação que com certeza vai encontrar lá é sobre a iluminação ruim do filme. E é uma reclamação que realmente procede: muitas cenas são tão escuras que você nem entende o que tá acontecendo ali, pois não dá pra enxergar!
Tudo bem que 2 terços do filme se passam de noite. Mas existem técnicas pra fazer uma cena ficar com aspecto noturno sem deixar a tela toda preta, né?
Entretanto, parece que o excesso de escuridão do filme foi causado exatamente pela fixação do diretor em não mostrar a cara da criatura enquanto isso fosse possível, fazendo um jogo de luz por trás dele de forma que só aparecesse um vulto. Só dá pra ver mais ou menos alguma coisa quando ele fica preso no meio de um incêndio, já no final. E é aí que a gente entende o que houve: a maquiagem ficou muito mal feita! Tinham que dar um jeito de não aparecer muito.
Por outro lado, cenas escuras parecem fazer parte da estética que o Paul Lynch seguia nos anos 80: quando ele lançou Baile de Formatura, também conhecido como A Morte Convida para Dançar (1980), esse filme também foi criticado pelo excesso de cenas escuras.
Se a intenção é contar uma história, essa história não pode ser contada de uma forma que ninguém entenda, certo? E um filme que é todo escuro acaba entrando nessa de ninguém entender: a escuridão torna o filme confuso, e não misterioso.
Bom, lançado no Brasil com o título de A Ilha dos Cães quando saiu em VHS, e ao mesmo tempo exibido na televisão com o título de O Monstro da Ilha, esse filme tem como história um roteiro corriqueiro de slashers. Vamos ver:
Um pequeno grupo de jovens (um garoto bonzinho, uma garota boazinha, um garoto brigão, uma garota tarada e uma nerd) tão passeando de iate por um dos Grandes Lagos do Canadá, até que acabam se afastando dezenas de quilômetros da margem meio sem perceber.
De repente (e bota ‘de repente’ nisso!), a noite cai e ao mesmo tempo eles são envolvidos por um espesso nevoeiro, não conseguindo encontrar o caminho de volta pra margem. Mas, por outro lado, eles esbarram com uma lancha que tava à deriva com 1 único tripulante.
Esse homem explica que o único ponto de terra naquela parte do lago é a chamada Ilha dos Cães... Uma informação valiosa, já que o garoto brigão logo depois provoca um acidente que incendeia o iate e obriga todo mundo a se jogar no lago. Ou seja, eles são obrigados a nadar pra tal ilha, que tá a poucas dezenas de metros dali... A única coisa que ninguém sabe é que a ilha é habitada por alguém louco, deformado, anormalmente forte e que se comporta literalmente como um animal selvagem!
Só pra completar o ‘grupinho clichê’ de personagens de slashers, o cara da lancha é aquele personagem que entra no filme só pra explicar um pouquinho da história e morre menos de meia hora depois.
O maior buraco que o roteiro deixa é uma passagem de tempo de 1946 pra 1982, já que nada é explicado sobre o que aconteceu nesse meio tempo. E seriam exatamente as informações mais importantes pra gente entender a história com detalhes...
Acontece que o filme começa nos apresentando a filha de um milionário que é estuprada pelo ex namorado bêbado numa ilha florestal da família dela, em 1946. E segundos depois do estupro, os cães de estimação dela avançam no cara e fazem ele em pedaços. Mas ela termina de matar ele, quebrando-lhe o crânio com uma pedrada.
E aí é que tá: o filme não mostra o que aconteceu imediatamente depois disso. Mas deixa claro que o estupro resultou numa gravidez e, por algum motivo, o filho nasceu deformado e com o cérebro afetado.
A mulher passa a viver sozinha com o filho na ilha. E só sai de lá 2 vezes por ano pra comprar mantimentos, sendo que nessas ocasiões ela não olha nos olhos de ninguém nem diz nenhuma única palavra a ninguém, se limitando a comprar o que precisa e voltar pra ilha, onde acredita que o filho tá “protegido” do mundo exterior, guardado por uma grande matilha de cães de guarda que ela mantém ali.
No início dos anos 80, ao ver que tá doente e morrendo, ela destrói todos os barcos que tem na ilha, pra ter certeza de que, depois que ela morrer, o filho não vai embora, continuando “protegido” ali.
Conclusão: depois que ela morre, o filho tem que matar e comer todos os bichos da ilha pra sobreviver (e isso inclui os cães de guarda). Até que aqueles náufragos chegam ali em 1982...
Essas são as informações que aparecem. Mas ninguém explica o motivo do bebê nascer demente e deformado ou o fato da mulher passar a viver como eremita na ilha, já que ela era uma milionária. Só podemos supor que ela tentou fazer um aborto que não funcionou e acabou sequelando o feto. E ela, profundamente traumatizada por todo aquele conjunto de situações trágicas, decidiu viver ‘escondida’ naquela ilha. Mas é questionável que existisse amor materno ali, pois o filme dá a entender que ela sempre tratou o filho como pouco mais do que um dos cães dela. E nem deu um nome a ele: no roteiro ele é identificado apenas como Ida’s Son, já que o nome da mulher é Ida.
Quanto à força e resistência física fora do comum que ele adquiriu, talvez tenham sido exatamente por ter crescido como um animal selvagem, numa floresta.
Também é questionável que a tragédia de 1946 tenha caído num esquecimento tão absoluto em pouco mais de 30 anos (nenhum dos personagens de 1982 sabe nada sobre essa história): a Ida foi estuprada e matou o estuprador a algumas dezenas de metros de onde tava acontecendo uma festa com vários e vários convidados. Será que quando encontraram ela ninguém na festa estranhou a situação? E ninguém ali comentou o que aconteceu com outras pessoas mais tarde, quando foi embora da festa?
Eu sempre tive as minhas dúvidas sobre classificar A Ilha dos Cães como um filme de terror, pois ele não tem muitas cenas propriamente aterrorizantes. É um slasher, é claro. Mas pode ser entendido como um suspense com pinceladas de terror.
Outra particularidade que dá pra destacar aqui é que esse filme não tem como vilão um assassino sádico. O “monstro da ilha” é retratado como um predador que mata pra comer e pra defender o território dele, mas sem nenhuma conotação de matar por vingança ou sadismo (a gente percebe mais características de perversidade indiscutível em outros personagens que aparecem na 1ª metade do filme, como o Nick e o Tom). Tecnicamente, ele é só um animal irracional, sem característica humana nenhuma.
Ação? Bom, apesar do filme ser bem parado em várias partes, consegue manter um certo clima de aventura nas últimas cenas. Mas o final mesmo é aquele clichezão de slasher oitenteiro que todo mundo conhece.
Agora vou destacar uma coisa que qualquer fã de slashers dos anos 70 e 80 vai perceber se chegar a ver A Ilha dos Cães: esse filme bebeu na fonte de vários slashers um pouquinho mais antigos do que ele.
Logo de cara a gente vê que várias partes desse filme foram ‘aproveitadas’ de Antropophagus (1980), embora Antropophagus não seja um filme bom pra se ‘aproveitar’ ideias.rs Mas pelo menos A Ilha dos Cães não ficou com as contradições de Antropophagus.
Uma cena aqui que foi inegavelmente (e escancaradamente) plagiada de Sexta-Feira 13 – parte 2 (1981): quando a Sandy tá sendo perseguida pelo Ida’s Son, ela entra num quarto escuro, veste uma blusa da Ida e, quando ele entra, ela finge que é a Ida e consegue controlar ele assim... No outro filme, lançado 1 ano antes, uma garota perseguida pelo Jason já tinha usado essa mesmíssima tática pra escapar do vilão.
Se vocês acham que esse foi o plágio mais indiscutível que A Ilha dos Cães cometeu é porque vocês ainda não compararam esse filme com Tower of Evil (1972).
Ambos os filmes mostram uma mulher que teve um filho aberrante e foi viver com ele separada do Mundo numa ilha aonde ninguém ia. Até que ela morreu, o filho virou uma espécie de terror ambulante vagando pela ilha e atacou um grupo de pessoas que chegaram lá...
Tem até cenas que são quase 100% iguais nos 2 filmes, como os recém-chegados encontrando uma foto antiga da mãe com o bebê aberrante no colo em que ela tenta esconder ele. E também uma garota que encontra a carcaça da velha sentada numa cadeira no quarto dela. E não vou contar como é a cena do confronto final entre a mocinha e o vilão em ambos os filmes, mas até nessa parte A Ilha dos Cães mostra exatamente o mesmo tipo de situação que Tower of Evil.
Santo filme de terror plagiado, Batman!rs
Agora, uma parte fofa rs: A Ilha dos Cães conseguiu plagiar até mesmo cenas de Scooby-Doo, Cadê Você? (1969). É só ver a cena em que um loiro bonitão, uma ruiva boazuda e uma nerd de óculos (o Eric, a Sandy e a Carla) tão andando por um casarão abandonado, procurando pistas sobre o que aconteceu ali. Vão me dizer que isso não lembra várias cenas do Fred, da Daphne e da Velma em Scooby-Doo?
Mais informações sobre A Ilha dos Cães? Lá vai:
E dê uma clicada aí do lado em ‘slashers’ que você acha posts sobre Antropophagus, Sexta-Feira 13 – parte 2 e Tower of Evil. E dê uma clicada em ‘seriados’ que você acha um post sobre Scooby-Doo.
Até Dezembro!