No próximo dia 30 se comemora o dia do evangélico. E como a programação da Rede Globo tem tentado nos últimos anos seduzir esse público e como o objetivo da Multibússola é falar sobre produções (entre outros tipos) televisivas, decidi fazer um post alternativo falando sobre esse assunto.
Vamos ver como a relação entre a Globo e os pentecostais e neopentecostais se desenvolveu:
Até os anos 80, o Brasil era um país de uma maioria católica que quase chegava perto da unanimidade.
Claro que sempre foi comum encontrar pessoas de outras religiões. Mas é indiscutível que a maior parte do povo era católica.
Com o crescimento dos movimentos pentecostais e neopentecostais nos anos 80 (eles já existiam antes disso, é óbvio, mas começaram a ganhar mais força na virada dos anos 70 pros 80), esse grupo começou a chamar uma certa atenção da mídia...
Ao mesmo tempo, eles começaram a atrair o deboche e a antipatia do resto da sociedade.
Deboche porque são grupos que se expressam basicamente através do exagero e do descontrole emocional. E antipatia porque eles vivem em função do proselitismo, pressionando todas as pessoas de uma forma doentia (e muitas vezes agressiva) pra que elas se juntem às igrejas deles, mesmo que as pessoas já tenham respondido várias vezes que não querem.
Então, desde os anos 80, as novelas da Globo não perderam tempo em passar a retratar os pentecostais e neopentecostais exatamente da forma descrita acima.
Realismo? Não podemos negar que sim. Afinal, você vai dizer que nunca viu criaturas como a Nevinha de Tieta (1989) ou como a Edivânia de Duas Caras (2007)? É só olhar principalmente pras classes mais pobres da sociedade que você encontra no mínimo algumas dezenas de edivânias e nevinhas.
Mas aí é que está: os movimentos pentecostais e neopentecostais se espalharam com muita força nas favelas e bairros pobres. E o pobre, independente de qual seja a religião que ele segue, tem uma tendência ao fanatismo religioso muito mais forte do que as pessoas de classe média pra cima.
Nem vou entrar muito nesse assunto de pobreza sempre resultar em fanatismo religioso porque isso daria outro post.
Bom, conforme esses movimentos foram aos poucos penetrando nas classes mais altas (embora a grande maioria dos frequentadores desse tipo de igreja ainda seja formada por pobres), a imagem do evangélico mais moderado começou a se fazer notar mais.
Hoje qualquer brasileiro que não seja evangélico já conhece algum evangélico de comportamento comum, que não se parece nem de longe com a Edivânia nem com a Nevinha. Mas que geralmente é uma pessoa de classe média, média-alta ou alta.
Ao mesmo tempo, aquela grande maioria católica que existia até os anos 80 não existe mais hoje: as necessidades pelas quais a população brasileira passava não eram correspondentes à inflexibilidade dos papas João Paulo II e Bento XVI, que se recusavam a aceitar qualquer tipo de mudança ou de adaptação no funcionamento do Catolicismo Romano.
Então, uma grande parte da população foi saindo dessa igreja e procurando outras, que resolvessem melhor os problemas dela: a grande maioria dos evangélicos mais velhos são ex católicos.
Então, quando a Globo viu o crescimento dessa nova divisão dos evangélicos, passou a tratar esse assunto de uma forma mais lucrativa. Afinal, já que agora eles são um público grande, é intere$$ante que a emissora seja bem vista entre eles, né?
Assim, de uns 5 anos atrás pra cá, as novelas da Globo têm retratado os personagens evangélicos como pessoas mais moderadas e de comportamento mais adaptado ao Brasil atual. Ou mesmo como protagonistas das novelas.
Vendo-se retratado dessa forma, o público evangélico vai passar a ter melhores relações com a Globo.
Entretanto, isso funciona sempre? É evidente que não.
Protestantes históricos (luteranos, presbiterianos, anglicanos...), em sua maioria, são pessoas mais moderadas e mais adaptadas à realidade. Com esses, pelo menos na maioria das vezes, não é difícil estabelecer um diálogo civilizado e educado.
Quanto aos pentecostais e neopentecostais, principalmente entre os mais pobres desse grupo, já começa a ficar difícil. Como eu já disse, a maioria ali é movida a exagero, proselitismo e descontrole emocional. As manifestações de intolerância contra outras religiões e outros estilos de vida são frequentes entre eles.
Se você pensar nos capachos do Silas Malafaia ou de qualquer outro chefe evangélico midiático (a gente sabe que cada um desses se posiciona como uma espécie de papa dos evangélicos), aí pode esquecer de vez. Porque, se esses elementos falarem que 2 + 2 = 5, que sal é doce e que açúcar é salgado, os capachos deles vão simplesmente concordar sem questionar. E vão ficar repetindo o que eles falaram que nem uns papagaios.
Por mais que a Globo passe a retratar os evangélicos como ‘personagens do bem’ nas novelas dela, por mais que o lado jornalístico da Globo passe a divulgar eventos evangélicos com simpatia (eles só começaram a fazer a partir de bem pouco tempo atrás), isso não vai mudar a opinião negativa que esses pentecostais e neopentecostais têm da Globo.
Vindo desse grupo, a Globo vai continuar sendo chamada por eles de “Rede Esgoto”, de “Globo Lixo”... E vai continuar sendo vista como “INIMIGA DE JESUS!!!”.
Então, a qual conclusão chegamos? Esse esforço da Globo pra ganhar o público evangélico está funcionando?
Pra maioria dos protestantes históricos e dos pentecostais de classe média pra cima, sim. Pros pentecostais e neopentecostais mais pobres e principalmente pros escravos de chefes evangélicos midiáticos, não está funcionando nem vai passar a funcionar.
Até a próxima!😉


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